Resumo: INEM, país, emergência, saúde
Ao fim de 11 dias, o Presidente da República decidiu dar um murro na mesa e avisar o primeiro-ministro de que terá de haver consequências políticas e não apenas administrativas pela falha do INEM, no socorro a situações de emergência. Foi, definitivamente, o fim do estado de graça do Governo para o próprio Marcelo Rebelo de Sousa, que tem mantido um especial equilíbrio com este executivo.
Luís Montenegro é da sua cor política, esteve ligado a um Governo que para Marcelo é de boa memória, o de Passos Coelho, está a fazer anúncios populares, nomeadamente para a função pública. O Presidente da República e o primeiro-ministro, porém, não poderiam ser mais diferentes. Têm uma relação estritamente formal e distante, não lhes são conhecidos interesses comuns, nem partilham as mesmas amizades.
A relação de Marcelo com Montenegro é, pois, bem diferente daquela que o Presidente teve com o ex-primeiro-ministro socialista António Costa, no chamado período idílico dos primeiros meses de coabitação e de estreia da “geringonça”. Dir-se-ia que Marcelo e Costa falavam a mesma língua. Esse período de estado de graça só se quebrou abruptamente com os incêndios de 2017, quando o Presidente não descansou enquanto não conseguiu afastar a então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que ainda ficou na corda bamba durante uns longos três meses.
Neste caso da chamada “segunda-feira negra” do INEM, a primeira reação do atual primeiro-ministro foi explicar ao país que o Governo não pode “andar todos os dias atrás de pré-avisos de greve e a fazer reuniões de emergência”. E perante o aviso de Marcelo esta quinta-feira, de visita ao Equador, de que têm de ser assumidas responsabilidades “doa a quem doer”, o primeiro-ministro desvalorizou o facto de ter havido várias horas em que as pessoas que ligavam para o 112 não tinham ninguém que atendesse a chamada do outro lado. “Há um país que pulula todos os dias apesar dos problemas do INEM”, respondeu Montenegro.